Paridade 70: um falso conceito a ser desconstruído
Jayme Buarque de Hollanda, do INEE, apresentou a palestra Paridade 70: um falso conceito a ser desconstruído em que atacou a ideia arraigada de que a produtividade do etanol está limitada a 70% daquela da gasolina.
Jayme começou estabelecendo uma visão histórica lembrando que os antigos veículos Ford Model-T (‘Ford Bigode’, como vieram a ser conhecidos no Brasil) do início do século XX utilizavam etanol.
A gente tem a introdução e a morte do etanol naquela época. O combustível foi perdendo força no mercado e foi abatido definitivamente com a criação da ‘Lei Seca’ nos Estados Unidos, que proibiu a venda de todo tipo de álcool no país.
De acordo com Jayme, “um fato importante é que na década de 20 havia uma preocupação com as reservas conhecidas de Petróleo, que garantiriam o consumo por um curto período de apenas cinco ou seis anos. Ou seja, já existia uma preocupação inicial com a eficiência do processo e com a sustentabilidade e disponibilidade de combustível de maneira contínua”.
O etanol desaparece na década de 30 e ressurge no Brasil nos anos 70, como uma solução desesperada dada a conjuntura da crises do petróleo naquela década, que tinha potencial explosivo para a balança comercial brasileira. Com a introdução do combustível, ficou demonstrado que, além de combustível, o etanol poderia funcionar como um aditivo da gasolina que contribuiria para aumentar sua octanagem.
Segundo Jayme, “no processo brasileiro é mais lógico considerar a coexistência de veículos puramente a gasolina com veículos puramente a etanol, além do próprio flex, que equilibra a equação. No momento em que o país fala em reabrir o diesel par carros leves, o presidente do INEE julga que é importante voltar a pensar em todas as opções possíveis.
Durante a palestra Jayme elencou os diversos segmentos com potencial para modificar a paridade 70, ou seja, a ideia de que o poder calorífico – ou produtividade do etanol – corresponde, grosso modo, a 70% daquele da gasolina:
- Consumidor
- Academia
- Governo
- Produtores de etanol
- Montadoras
- Sistemistas
- Organizações não-governamentais
O palestrante detalhou o dilema que vive o consumidor, que geralmente trabalha no nível do ‘eu ouvi dizer’. A fronteira dos 70% é uma mensagem fácil que ‘grudou’ na mente desse consumidor, e alterá-la se revela um processo difícil. A mesma mensagem costuma ser repetida sistematicamente pela mídia, tornando mais difícil qualquer mudança nesse sentido. Para Jayme, “alguns dizem que se trata de um problema incontornável do etanol: se eu vou extrair 70% menos calor, eu vou alcançar 70% menos movimento. Mas essa é uma ideia falsa e errada, e o consumidor convive com essa informação”.
De acordo com ele, o cenário ideal é que o consumidor tenha melhor consciência de que essa paridade 70 não é um limite monolítico, que deve ser visto com reserva. Cada motorista, de acordo com seu perfil de consumo, deveria manter uma rotina de analisar a produtividade de seu veículo, de acordo com seus hábitos de transporte, para alcançar o ponto ideal de sua
Jayme sustenta que já existe evidência em contrário sobre a correlação dos 70% e citou a Ecofrotas, empresa que fornece uma espécie de cartão de crédito para abastecimento e possui uma frota de aproximadamente 500 mil veículos, permitindo medições comparativas muito interessantes entre a gasolina e o etanol que apontam para um número muito mais próximo dos 80%.
Jayme Buarque apontou problemas com o decreto nº 8544, de outubro de 2015, no âmbito do programa governamental Inovar Auto, que, segundo ele, sacramenta o paradigma ao estabelecer que os motores flex não devem tornar a queima do etanol mais eficiente em detrimento da produtividade da gasolina.
Por fim, Jayme declarou que “as montadoras são as que menos me preocupam, elas vão seguir a demanda do mercado como sempre fazem. A introdução do veículo flex no Brasil se deu a partir do pioneirismo de um fabricante, e todos os demais se viram obrigados a segui-lo para manter sua fatia de mercado”.