Os desafios de comunicação para a promoção do etanol
Adhemar Altieri, diretor executivo da MediaLink Corporate Communications, foi diretor de Comunicação da UNICA por 7 anos. Ao longo de sua palestra, o jornalista compartilhou suas impressões e experiência ao longo desse período.
Na época, segundo Adhemar, “o mundo percebeu que o etanol poderia ser uma solução energética viável, e todos olharam para o Brasil, que já utilizava o etanol em larga escala”.
Segundo ele, todos bateram à porta da UNICA naquela época para conhecer a experiência brasileira e levantar mais informações sobre essa alternativa energética, o que levou a organização a montar um departamento exclusivo para receber autoridades, pesquisadores, acadêmicos e empresários estrangeiros. “O setor sucroalcooleiro era assediado por todos os lados, houve uma grande euforia”, resumiu.
O jornalista lembra também que foi preciso combater ferozmente a desinformação, citando o exemplo dos Estados Unidos: na época, o país tentava estabelecer uma indústria de etanol de milho e, de repente, grupos de interesse naquele país passaram a desconfiar de que o etanol brasileiro iria arrasar a produção norte-americana.
Também foi preciso remar contra uma forte campanha estabelecida naquele país, capitaneada pela indústria do Petróleo, que lançou uma série de meias-verdades, ou simplesmente informações falsas, com o objetivo de gerar dúvidas e confundir o público. Entre elas, a noção incorreta de que o avanço do etanol reduziria a oferta de alimentos e aumentaria seu preço. Adhemar esclareceu que as duas coisas são inteiramente distintas e que essas atividades são complementares.
Para ele, “qualquer pessoa fora do Brasil que toma conhecimento daquilo que nós temos aqui fica impressionada. Mas o brasileiro escuta besteiras e fica repetindo bobagens.”
Ele lembrou uma campanha de comunicação promovida pela UNICA chamada de ‘Etanol Completão’, que envolveu a criação de uma página no Facebook: “era impressionante a quantidade de bobagens que as pessoas escreviam sobre o etanol. Há conceitos malucos, simplesmente falsos, que são ‘vendidos’ por aí e que ficam anos na cabeça das pessoas, contribuindo para a desinformação geral e dificultando a comunicação com o consumidor. Isso atrasa e atrapalha o debate”.
Adhemar cita algumas vitórias que foram alcançadas pela atuação da UNICA, entre elas a o esforço para derrubar a taxação sobre o etanol brasileiro dos Estados Unidos. Também mencionou um amplo esforço realizando junto às autoridades brasileiras para padronizar o nome ‘etanol’, que passou a substituir o termo ‘álcool’ em todas as bombas de gasolina no país. “Nós temos um produto para exportação. No mundo inteiro esse produto é conhecido como etanol, e nós precisávamos sim nos enquadrar ao padrão internacional. Fizemos todo o esforço, conseguimos a aprovação da ANP e o esforço se pagou”, explicou Altieri.
Sobre o momento econômico de crise do setor sucroalcooleiro, Adhemar Altieri teceu duras críticas à atuação do Governo brasileiro nos últimos anos: “conseguiu arruinar o setor sucroalcooleiro. Como você consegue ir para fora, defender o etanol, quando o Governo, que deveria ter todo o interesse em promover o seu produto, está concentrado justamente em sabotá-lo? Qual mensagem você manda para o mercado? Hoje você tem 80, 90 usinas fechadas apenas no Estado de São Paulo. Embora se possa visualizar hoje uma retomada tênue, há questões importantes que precisam ser resolvidas e que são muito importantes”.
Para Adhemar Altieri, o principal problema é a autonomia do Governo para interferir nos preços dos combustíveis a seu bel-prazer, porque gera insegurança no mercado, prejudicando o investimento de longo prazo e dando margem a todo tipo de interferência política.
“O que está faltando para a gente avançar?”, indagou Adhemar Altieri. Segundo ele, as partes interessadas precisam conversar: “quando eu cheguei na Única, reforçamos os laços de comunicação com as montadoras. Produzimos a cartilha ‘mitos e fatos sobre o etanol’. Criamos esse material e chamamos as quatro principais montadoras. Nós conseguimos convencer as montadoras a distribuir esse material juntamente com os manuais e documentação dos veículos, ao saírem da fábrica”.
Para o palestrante, falta todo mundo jogar junto, remar no mesmo sentido, e relatou os problemas que ocorrem dentro das próprias montadoras, que são multinacionais, entre a percepção dos técnicos e executivos brasileiros e aquela de suas matrizes: “eu vi muitos problemas sobre falta de compreensão do que se passa no Brasil. As montadoras muitas vezes têm divergência de discursos: enquanto os técnicos brasileiros sabiam sobre os fatos em torno do etanol, lá fora eles não têm a menor noção e não querem ouvir falar em etanol. Existe muita resistência nas matrizes a avanços na eficientização dos veículos com etanol. Há, sobretudo, muita dificuldade de permitir melhorias nos veículos brasileiros”.
O palestrante citou o caso de uma grande montadora alemã, que lançou há alguns no Brasil um carro flex que utilizava etanol de maneira muito inteligente e eficiente, garantindo excelente performance para um veículo esportivo. O problema é que a montadora nunca quis falar sobre o produto e sempre se negou a divulga-lo como um case, provavelmente porque o mesmo não estava nos planos de produção de sua matriz em escala internacional.
Adhemar alertou que “tem gente que acha que o etanol vai virar apenas um aditivo de combustível, o que seria um desperdício gigantesco, levando-se em conta o potencial do etanol como combustível.”
O palestrante chamou a atenção para o papel estratégico que o etanol precisa ter na matriz energética brasileira, alertando para os compromissos assumidos recentemente pelo país: “o Brasil não conseguirá cumprir suas metas estabelecidas na COP 21 se não promover o avanço do etanol”.
Ao final da apresentação, Adhemar Altieri voltou a conclamar todos os setores a ajustarem a comunicação, sentarem juntos e passarem a atuar na mesma direção em prol da promoção do etanol.