Manoel Regis analisa a produtividade da cana
A palestra de Manoel Régis Lima Verde Leal se concentrou na produtividade do campo brasileiro nos últimos anos, com destaque para o plantio da cana-de-açúcar.
A expansão acelerada da demanda por etanol no período 2004 a 2008 demandou a entrada da cana em novas áreas de plantio. Se antes o canavial era plantado em áreas historicamente conhecidas pelos usineiros, esse período de expansão acelerada acabou estimulando o avanço sobre áreas no cerrado, que traziam novos desafios de solo e clima. Nem sempre essas novas áreas tinham disponibilidade de mão de obra e o cultivo se deu sem as variedades de planta e manejo adequados.
A mecanização introduzida de maneira açodada trouxe consequências sérias: a perda de colheita na extração mecânica é maior do que no corte manual. O aproveitamento medido em tonelada por hectare se mostrou significativamente menor pela utilização dos novos equipamentos. Um fator de impacto nesse sentido é a baixa capacitação da mão de obra para utilização dos equipamentos na colheita.
O autor destacou que a crise global de 2008 pegou o setor sucroalcooleiro em momento de franco crescimento, mas também de alto endividamento por conta desse processo. Com o avanço das taxas de juros nesse período, o usineiro médio se viu repentinamente forçado a cortar custos onde podia: pela redução de custos com insumos agrícolas, pelo atraso na renovação do canavial e também pela redução de sua mão de obra. Esses e outros fatores reunidos levaram à queda de qualidade no manejo agrícola e, consequentemente, à queda da produtividade.
Manoel Régis mostrou um gráfico que analisa o histórico de produtividade na produção da cana, destacando a variação ano sobre ano. O autor mostrou também que a produtividade do canavial segue de maneira estreita a taxa de renovação do canavial. Na medida em que o produtor passa a estender a vida útil desse canavial, com o objetivo de reduzir custos, a produtividade passa a ser impactada.
Afinal, qual é a fórmula para retomar a alta produtividade no campo de maneira sustentada? O autor destacou:
- Retomada das boas práticas agrícolas.
- Desenvolvimento das variedades adequadas aos novos ambientes de produção.
- Introdução de variedades geneticamente modificadas que estão atualmente em desenvolvimento. As dificuldades para isso são a morosidade do processo de pesquisa, que demanda uma série de etapas até que a variedade possa ser considerada estável e segura para o plantio.
- Solução dos problemas de mecanização que impactam a produtividade na produção recente da cana-de-açúcar no Brasil. A tecnologia difundida atualmente é antiga e acaba acarretando perdas importantes no momento da colheita.
- Uso de novas técnicas agrícolas, como agricultura de precisão, cultivo mínimo e mudas pré-brotadas.
Manoel também destacou o potencial de melhoria no desempenho industrial
- Ganhos de eficiência na conversão (84% para 90%)
- Aumento da geração de EE excedente.
- Entender melhor a safra: cana energia, milho, sorgo, e outras biomassas
- Etanol 2G
Destacou a importância de melhorar a eficiência do uso final do etanol, que corresponde à melhor utilização nos veículos, com ganhos de produtividade que favoreçam a adoção do combustível. Segundo Manoel, "a competição do petróleo de baixo custo significa que nós também precisamos melhorar a produtividade na utilização do etanol na ponta."
O palestrante finalizou indicando que o setor sucroenergético passa por uma séria crise que afeta sua competitividade, sendo a principal causa a queda significativa da produtividade.