Você está aqui

IV Seminário sobre Uso Eficiente do Etanol
25 de Outubro
Jundiaí Tech Center da Mahle - Rodovia Anhanguera km 49,7 (sentido interior – capital SP) - Jundiaí - SP

José Roberto Moreira, da USP, fala sobre o avanço da P&D para motores a etanol

José Roberto Moreira, da USP e FAPESP, falou sobre o interesse pela P&D de motores a etanol.
José Roberto Moreira, da USP e FAPESP, falou sobre o interesse pela P&D de motores a etanol.

Durante sua apresentação, o professor da USP e da FAPESP, José Roberto Moreira, discutiu os desafios que se impõem para o avanço das pesquisas em torno do desenvolvimento do etanol combustível no país.

Citou o problema da dispersão dos investimentos em fontes menos promissoras, como, por exemplo, a produção de etanol a partir da celulose: “se nós observarmos, a quantidade de dinheiro investida em biocombustível de celulose vem caindo nos últimos anos. Isso é bom, porque essa linha de pesquisa serviu para desviar a atenção e procrastinar o investimento no etanol de cana”. O professor mostrou gráfico que mostra um pico de investimentos em pesquisa nos biocombustíveis a base de celulose no ano de 2011, com declínio gradual nos anos seguintes.

Em seguida, lançou o questionamento: “por que o biocombustível tem dificuldade de competir com outras energias renováveis? Porque atualmente o investimento está muito concentrado no desenvolvimento das energias solar e eólica. A energia a partir da biomassa interessa, basicamente, aos países tropicais e em desenvolvimento. Felizmente, a China, que pode ser um importante parceiro, tem demonstrado interesse em investir no desenvolvimento dessa tecnologia”.

O professor citou um estudo norte-americano que demonstra que as emissões pelo uso do etanol são baixíssimas (pode chegar a 9g CO2 / MJ em condições ideais) em comparação àquelas da gasolina (aproximam-se dos 100g CO2 / MJ).

O Prof. Moreira mostrou gráfico que demonstra que a introdução da mecanização na colheita do etanol teve importante impacto na produtividade brasileira: "temos que recuperar nossos níveis anteriores de eficiência aprimorando a tecnologia para as nossas condições". Mostrou também que a ECOFROTA, programa da Prefeitura de São Paulo, é um experimento que está em baixa. Houve queda expressiva recentemente: de 1846 ônibus movidos a biocombustíveis, em 2013, o número caiu para 646 em 2014. Para se ter uma ideia, o número de ônibus em circulação em São Paulo é de aproximadamente 15 mil.

O Prof. Moreira lançou então o questionamento que está na base dessa palestra: “o que eu faço então para aumentar a pesquisa nesse campo?” Para começar, mostrou estatística que contém estimativa do investimento mundial em pesquisa voltada para o transporte automotivo, com um total de aproximadamente US$ 100 bilhões. Desse total, a participação brasileira está em torno de 2%. O professor se perguntou então: “para onde esse investimento está seguindo?” Citou então o programa BIOEN/FAPESP, que envolve investimentos em biomassa. José Roberto agrupou os trabalhos realizados no âmbito dessa linha de investimento e constatou uma grande dispersão dos recursos em pesquisas que envolvem muitos segmentos diferentes.

O professor também criticou trabalhos teóricos em contrapartida àqueles que são desenvolvidos a partir de pesquisas em laboratório, que buscam resultados que podem ser demonstrados. Segundo ele, “é muito mais confortável trabalhar em modelos teóricos para papers e pesquisas, ao invés de estudos experimentais em laboratório. O pesquisador precisa ser capaz de levantar recursos para aparelhar seu laboratório e, ao mesmo tempo, manter um ritmo elevado de publicações. Por conta disso, ele acaba se concentrando na produção de artigos teóricos ao invés de se dedicar à pesquisa prática”.

O professor mostrou também um gráfico que mostra o investimento que será necessário realizar para que as metas de emissão de carbono sejam alcançadas. Quanto mais ambiciosas são as metas, maior é o investimento necessário: “para restringir o aquecimento da Terra, vamos ter que investir”.

Por fim, mostrou gráfico que demonstra que o investimento em energia de biomassa tem potencial muito grande de captura de carbono com custo relativamente baixo em relação a outras opções energéticas. “Vejam o que significa cana-de-açúcar. Vejam o poder que tem. Mais cedo ou mais tarde, nós vamos gastar muito mais dinheiro em algum ponto porque não dominamos a tecnologia do biocombustível. Quem tem que desenvolver essas tecnologias são os países tropicais, mas nosso investimento neste momento é insuficiente”, declarou José Roberto Moreira.

O professor reforçou seu alerta no fechamento da palestra: lamentou a pouca atenção dada à biomassa como fonte de energia em comparação a outras formas de geração, como eólica e solar, que recebem investimentos pesados em países desenvolvidos, e cuja tecnologia acaba sendo consumida no Brasil. Segundo o professor, estamos desperdiçando o gigantesco potencial da biomassa.

Menu principal